sábado, 7 de agosto de 2010

Desalento inerente

E simplesmente vais deitar-te, sem sequer tentar perceber o que estás a fazer de errado, porque, afinal, ao que parece, a culpa é minha, certo?

Desde sempre, mas sobretudo desde que tudo isto começou, eu tenho sido quem apara os golpes, quem segura a situação, quem te ampara, te dá alento e colo, sou eu quem tenta levantar-te e fazer-te ver a vida; mas não na tua óptica, pelo menos não de forma total. Dependendo da altura do dia, dependendo do teu estado de (in)consciência, eu tanto sou o teu anjo, que te guia e te segura, como sou eu quem te chateia e começa discussões que só tu sabes que temos (porque eu estou perdida, a tentar perceber que raio dizes, que encadeamente fizeste, e porque usas esse tom). No entanto, quem muda és tu, que usa expressões como “lá estás tu” quando é a primeiríssima vez que toco no assunto, e quem distorce és tu.

Ninguém seria, ninguém é, tão compreensivo, tão paciente, tão amigo, como eu, mas sou eu quem se esgota a chorar depois de te deitares porque não entendes o que andas a fazer de errado, e pelos vistos também não tens interesse em saber, porque não pensas no assunto.

Eu não sou psicóloga. Eu faço o melhor que sei, conforme posso, nem os teus pais te conhecem como eu e mesmo assim não consigo. Passas do mimo excessivo à agressividade gratuíta. Temos visões diferentes sobre um simples filme. Estás farto de saber a minha opinião, mas tratas o assunto com um dramatismo exacerbado, contorcido. De um momento para o outro eu já estou a querer impedir-te de comprar filmes porque considero que és bronco e os meus são melhores do que os teus, mesmo que alguns (dos meus) não sirvam para nada. Não foi nada disso e estás a distorcer tudo sem qualquer necessidade. Mas queres ouvir, realmente ouvir, o que eu digo? Não. Preferes usar esse tom como se fosse eu a mudar de postura e a tentar dominar algo sem qualque sentido. E eu estou a sentir-me completamente estúpida e sem qualquer coerência a debitar isto tudo porque apenas eu vi e senti; não consigo descrever e aposto que não entenderias se lesses ou mesmo se ouvisses, porque, neste momento, só ouves o que pensas; nem o que dizes ouves.

Amanhã vais levantar-te como sempre, a deambular, a procurar-me, e não vais lembrar-te do que fizeste porque, mesmo que te lembres, vais virar costas e preferir deixar para trás. Eu vou ficar a moer, a acumular e... a recear que com o avançar do dia e o teu despertar volte a acontecer. E como é que eu te faço ver e entender algo para o qual fechas os olhos ou viras as costas?

Toda a gente me pede paciência e todos se preocupam comigo, mas no fundo, a preocupação de toda a gente é contigo; é com a minha postura para contigo; é sobre a minha real capacidade de aguentar, suportar e carregar tudo o que se passa. Se eu não percebesse isso talvez fosse mais fácil, porque poderia enganar-me e acreditar; mas eu percebo e não posso dizer isso como gostaria – bem alto, bem rápido, lavando a alma!

Vou continuar do teu lado, vou continuar a segurar a tua cabeça, mas não será estranho quando me apetecer sair porta fora porque não aguento mais e preciso de explodir; só que não o farei, porque terei sempre medo que desta vez saltes mesmo da varanda, não estando lá eu para te segurar. Por isso dorme. É melhor que durmas, mesmo que a pensar que não me entendes e não sabes o que fizeste (nada) para que eu evite olhar-te e pouco te fale antes de te deitares com toda essa razão que não tens e não entendes