domingo, 11 de julho de 2010

If only I could

Ontem falámos em viver noutro país, com esperança, melhor do que este. Sem dúvida que há países melhores, com melhor qualidade de vida mas, neste momento, não há países que se destaquem. O mundo está em tumulto!
Durante muito tempo essa também foi uma mão que me chamava, uma porta que deixava passar luz, mas não pude aceder a esse chamamento. É engraçado como nos prendemos; se não por situações, por pessoas, por responsabilidades, por obrigações. Pelo menos a nossa presença fica presa. Mau, realmente muito mau, é se nós - espírito, vontade - ficarmos presos também. Eu continuo livre, mesmo com as minhas amarras e algumas raízes. Não posso permitir-me deixar de voar e, muito menos, de sonhar.
Não pertenço aqui. Estou aqui porque sim, porque a vida me conduziu até cá e fiquei. A minha vida é sábia, muito sensata, sabe sempre o que faz. Quando questiono e me ergo para contrariar, consigo vê-la, calmamente sentada dizer, pausadamente, 'tem calma, relaxa, um dia entenderás...' e é verdade; tudo o que outrora não entendi, algumas coisas que critiquei, ingenuamente, por falta de vivência, a minha sábia vida tratou de me fazer entender, demonstrando, fazendo vivenciar. Por isto sei que devo ter calma e aguardar. Um dia estarei onde pertenço e viverei como gostaria.
Foi curiosa a surpresa na tua postura quando te disse o que gostaria de fazer 'if I could'. Tenho quase total certeza de que já te tinha dito. [Em tantos anos já te disse tanto que por vezes me esqueço do que disse e do que deixei para depois. Não se devem deixar palavras partilhadas para depois; tentamos que não aconteça mas, por tempo, humor, ou prioridades, há sempre o que fica para depois e, muitas vezes, fica esquecido no turbilhão de acontecimentos que são os dias.]
Sim, isso é o que eu gostaria de fazer. Melhor: isso é o que farei. Até sei quando, mas não digo porque é triste e prefiro não pensar. Esse ponto de partida, preferia que nunca acontecesse; preferia não chegar nunca ao meu lugar; mas a vida não é eterna e nem todos somos para sempre.
Sei, mais ou menos, como será feito, mais ou menos como se seguirá mas prefiro não planear. Sonhar é suficiente, para já, e mesmo isto, sem grande pormenor. Basta-me a sensação... Se não posso, ainda, ter os momentos, ninguém pode privar-me de imaginar as sensações.
Um regresso a casa. É assim que sinto.
Regressar a casa sempre foi voltar ao local em que posso descansar, despojar-me, sentir segurança e perfeito relaxamento; por isso casa tem sido em muitos lados. Hotéis, por exemplo. Ouço pessoas dizerem que os hotéis são impessoais. Quando estou em viagem, um hotel é a minha casa. Quando chego e posso atirar o corpo à cama, estou em casa.
O regresso a casa, de que falo, é diferente. É um apelo, uma necessidade ventral, uma falta de algo que ficou e que precisa de ser colmatada; como naquela música "I'm coming home, to the place where I belong"...

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Como estás?

Se me inscrevesse num curso para actores, decerto que o faria em metade do tempo com o dobro da nota média final.
Antes de sair de casa preciso sempre de respirar bem fundo, forçar um sorriso e lembrar-me dos aspectos positivos de sair para um novo dia. No regresso faço algo tão semelhante como oposto. Deixo cair a capa, relaxo os ombros, respiro fundo e penso, já não preciso de carregar este peso nas próximas horas; posso deixar-me cair no marasmo do sofá e desacelerar o cérebro.
Na verdade, isto era d'antes... Ultimamente, Atlas teria pena de mim!
Para além de não ter como deixar cair o fardo, acumulo mais do que um, num malabarismo que, por vezes, nem eu sei como consigo. O pior, pior mesmo, é perceber que as minhas capacidades de representação começam a enfraquecer e é cada vez mais difícil equilibrar os pratos da balança. O cansaço aumenta, a confiança diminui, a vontade esvai-se. Não é difícil dizer "só mais um bocadinho; depois podes deixar cair." Difícil é avaliar como a queda será e que repercussões terá.
Abomino quem se senta à menor areia no sapato, contudo, torna-se muito dolorosa a caminhada quando se carrega uma rocha.
Odeio quem não tem noção do que anda a fazer à face da Terra e não vê (ou vê mas não tem perspectiva suficiente para perceber) o efeito dos seus actos nas outras pessoas.
Invejo quem pode bater na mesa, levantar-se e sair, sem olhar para trás, sem pensar em consequências.
Não custa muito perguntar, pelo menos: "como estás?" Ou se calhar até custa e sou eu quem tem uma perspectiva egoísta por esperá-lo.
No fundo, acredito que o problema esteja, realmente, em mim. O que pode esperar uma pessoa que mostra força e segurança quando na verdade é frágil e limitada, como qualquer ser humano?