sexta-feira, 2 de julho de 2010

Como estás?

Se me inscrevesse num curso para actores, decerto que o faria em metade do tempo com o dobro da nota média final.
Antes de sair de casa preciso sempre de respirar bem fundo, forçar um sorriso e lembrar-me dos aspectos positivos de sair para um novo dia. No regresso faço algo tão semelhante como oposto. Deixo cair a capa, relaxo os ombros, respiro fundo e penso, já não preciso de carregar este peso nas próximas horas; posso deixar-me cair no marasmo do sofá e desacelerar o cérebro.
Na verdade, isto era d'antes... Ultimamente, Atlas teria pena de mim!
Para além de não ter como deixar cair o fardo, acumulo mais do que um, num malabarismo que, por vezes, nem eu sei como consigo. O pior, pior mesmo, é perceber que as minhas capacidades de representação começam a enfraquecer e é cada vez mais difícil equilibrar os pratos da balança. O cansaço aumenta, a confiança diminui, a vontade esvai-se. Não é difícil dizer "só mais um bocadinho; depois podes deixar cair." Difícil é avaliar como a queda será e que repercussões terá.
Abomino quem se senta à menor areia no sapato, contudo, torna-se muito dolorosa a caminhada quando se carrega uma rocha.
Odeio quem não tem noção do que anda a fazer à face da Terra e não vê (ou vê mas não tem perspectiva suficiente para perceber) o efeito dos seus actos nas outras pessoas.
Invejo quem pode bater na mesa, levantar-se e sair, sem olhar para trás, sem pensar em consequências.
Não custa muito perguntar, pelo menos: "como estás?" Ou se calhar até custa e sou eu quem tem uma perspectiva egoísta por esperá-lo.
No fundo, acredito que o problema esteja, realmente, em mim. O que pode esperar uma pessoa que mostra força e segurança quando na verdade é frágil e limitada, como qualquer ser humano?

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