quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A encruzilhada

Não há muitas pessoas que possam dizer que fazem o que gostam, que têm a profissão para a qual se formaram, que quiseram e pela qual ansiaram. Sem modéstia digo que tenho esse privilégio. Sou muito feliz na minha profissão e orgulho-me de a desempenhar. Não o faço pelo estatuto nem pela vida que (deveria) proporciona(r). Vejo-me no que faço, contudo, onde sempre esperei não chegar: a um troço do meu caminho em que a névoa impera e a dúvida se levanta como uma enorme sombra disforme, daquelas que podem ser uma árvore, um humano ou um mero marco de correio.
Não questiono a minha escolha de percurso, longe disso!, mas preciso de mais. Quero chegar mais alto e mais além e sinto que existe um telhado, uma parede invisível que me barra.
Por outro lado, mas não ao lado, como a expressão indica, é mais em cima, como uma camada, há o peso de uma sensação de sempre, que talvez seja só minha (ou não). Acompanha-me, desde que me lembro de introspectivar, a ideia de que me cabe fazer algo de importante, grande para mim e para quem disso receber. Seria bíblico e assustadoramente militar dizer missão, por isso direi... o quê? Objectivo? Intervenção? Seja o que for, tem vindo a escalar, a espalhar, como raízes na pintura de Frida Khalo.
Acredito que todos existimos com um objectivo paralelo ao de ser feliz e sufoca-me o tempo que passa sem que saiba o que me compete, sentindo esse tempo escassear e acenar de forma provocatória, como alguém que sorri dentro dum comboio que arranca, enquanto uma pessoa tenta abrir a porta para entrar.

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